ɞ Capítulo Vinte e Dois ʚ

Fiquei realmente sem palavras para o que ela tinha acabado de dizer, não encontrei nenhuma a altura. Consegui apenas sorrir para ela. Continuamos então, a conversar. Beatriz estava muito feliz por eu estar ali, e eu me senti bem por isso.

_ Você vai ficar bastante tempo aqui? -Disse ela colocando a mão no meu rosto-.

_ Vou ficar só um pouquinho, hoje eu tenho show.

_ Sabia que eu gostei da sua visita?

_ E sabia que eu estava morrendo de saudades? -abracei ela-.

Enquanto falava com a Bia, percebi que Sophia estava ao lado de uma menina. Ela segurava em sua mão e dizia algo a garota -que aparentava ter uns 14 anos-  percebi então que ela estava com o rosto vermelho e chorando.. só naquele momento reparei que por trás daqueles olhos cor de mel, existia uma menina frágil.

_ Bia, você poderia me esperar só um minutinho?

_ Claro, mas volta tá?

Sai do lado dela e fui para a direção de Sophia, me aproximei delas e vi que nenhuma viu que eu estava ali, vi também que a criança chorava.

_ Fica tranquila ta bom? Logo você vai sair daqui e vai para sua casa com suas irmãs! -disse Sophia secando as lágrimas da menina.

_ Ta tudo bem por aqui? -falei.

As duas me olharam com surpresa.

_ Sim, está tudo bem. -disse Sophia ao passar a mão no seu rosto.

_Só estava contando pra ela, que eu queria ir embora.

_ E você vai, você vai ver. -falei.

_ Tomara, estou morrendo de saudade de casa e das minhas coisas.

_ Então Sophia, vamos conhecer outro quarto?

_ Vamos, só vou me despedir dela tá? -disse segurando a mão da menina-.

_ Tudo bem, vou me despedir da Bia também.



Caminhávamos em silêncio, ele estava muito concentrado e eu não queria atrapalhar seus pensamentos. Logo voltei a pensar na menina que tinha acabado de conhecer, sua história, sua vida me fez refletir. Ela tinha os mesmo gosto que os meus, e também antes de saber que tinha adoecido ela tinha seus pais muito distantes dela, só então depois da doença que eles passaram a viver ''pra ela''. E esse ela não tivesse adoecido, seus pais não dariam atenção há ela? Eu sabia o que ela sentia antes e involuntariamente comecei a chorar.

_ O que foi? -disse ele parando de andar e segurou em meus braços.

_ Não.. é.. nada. -disse pausadamente.

_ O que foi? -repetiu.

Olhei para ele e vi sua expressão de preocupado, não consegui responder. Ele percebeu que eu não estava bem e me abraçou. Era a primeira vez que ele tinha a atitude de me abraçar. Meu corpo ao tocar no dele estremeceu. Seu abraço era forte, sem entender porque fiquei calma ali, me parecia seguro. Ele pós as mãos em minhas costas e apertou.

_ Vai ficar tudo bem. -ele sussurrou-.

Voltamos a visitar as salas, ele não perguntou mais o porque que eu estava chorando, e isso foi ótimo. Não saberia explicar, acho que ele não entenderia.
Visitamos a metade das salas que ali tinham, deixamos as outras para uma próxima visita.

_ E então, gostou da nossa visita ao hospital? -ele disse tomando seu suco-.

_ Como você mesmo disse, é ótimo pra refletir e ver como a vida de outras pessoas podem ser piores do que pensamos que são a nossa.

_ Porque você estava chorando? -quando eu ia responder, ele me interrompeu-. Eu não perguntei antes, porque eu tentei entender... mas não consegui. Juro que não ia perguntar, mas a curiosidade está me irritando. -ele riu timidamente-.

_ A vida dela, é bem parecida com a minha.

_ Em que sentindo?

_ Digamos que só a parte da doença que não, pelo que ela me contou, o resto é parecido.

_ E como o resto é parecido?

_ Todo mundo tem problemas, você também tem aposto! - Desconversei-.

_ Minha vida não é perfeita, bom... em certos aspectos é maravilhoso, realmente perfeito.. só que não é em tudo..

_ E o que não é perfeito? -falei curiosa-.

_ Você não respondeu uma pergunta minha.

_ Então responde essa, que eu respondo.

_ Da pra deixar pra um próximo encontro -meu coração gelou com a palavra ''encontro''.- .. porque olha a hora -ele mostrou o relogio- tenho show hoje, tenho que chegar lá  antes.

_ Tudo bem, quando? -caminhávamos para o carro-

_ Quando eu voltar, pode ser?

_ Mas quando você volta? -falei expressando curiosidade demais-.

_ Não sei, eu te ligo tá bem?

_ Ta, né?

Então ele me levou para casa, no caminho conversamos muito -não sobre o que estavamos conversando antes-. Ele me contava sobre o que as fãs dele faziam para chamar sua atenção, ao mesmo tempo que ele contava, ele mesmo esboçava reação de surpresa, -como se ele não soubesse-. Ele passava uma energia maravilhosa, uma sensação indescritível. Só quem está ali ao lado dele, sentia aquilo. Pois em nenhum outro lugar ou mesmo outra pessoa passava tanta tranquilidade e felicidade feito ele.

Quando eu ia saindo do carro, sinto ele puxando meu braço.

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